sábado, 19 de maio de 2012

ADVA discute situação do deficiente visual com outras entidades

Encontro ocorreu em São Sebastião do Caí com representantes da Adevic e Ucergs

Foto: Osvaldo Sancher

Adilso Corlassoli, da Ucergs, Andrea Linck, da ADVA, e Eri da Silva, da Adevic

Em evento realizado no município de São Sebastião do Caí, no dia 24 de março, a Associação das Pessoas com Deficiência Visual e Amigos de Gravataí (ADVA) se reuniu com o coordenador da Associação dos Deficientes Visuais de Canoas (Adevic), Eri Domingos da Silva, e o representante da União de Cegos do Rio Grande do Sul (Ucergs), Adilso Luis Pimentel Corlassoli.

“A ADVA sempre teve entre os seus objetivos debater a situação do deficiente visual na sociedade e compartilhar informações com outras entidades”, ressaltou a presidente da associação, Andrea Linck. “Através das parcerias e da troca de experiências conseguiremos construir políticas para melhorar as condições de vida dos deficientes visuais”, completou.

Informações sobre a atuação e os projetos da ADVA podem ser obtidas através dos telefones (51) 3431.5191 / 8526.8782 / 8176.6934 / 9148.5602 ou pelos e-mails, secretarioadva@gmail.com, advagravatai@hotmail.com e comunicacaoadva@gmail.com.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Senai de Gravataí desenvolve máquina para deficientes visuais

Fresadora também pode ser operada por deficientes auditivos



Reportagem publicada no Correio de Gravataí (edição 4274), de 10 de maio de 2012, mostra que a criatividade derruba qualquer barreira e ainda promove a inovação e a inclusão. A matéria é sobre os alunos do Senai Ney Damasceno Ferreira, de Gravataí, que estiveram em Brasília na semana passada para participar do lançamento do Programa de Apoio à Competitividade da Indústria Brasileira. Durante o evento eles apresentaram a MFP 300, uma máquina fresadora que permite a operação por um deficiente visual, com a descrição dos comandos por mensagem de voz. A invenção já havia sido vencedora do Inova Senai 2011, etapa estadual, na categoria do voto popular, realizado durante o 4º Congresso Internacional de Inovação.

Parabéns aos alunos e professores do Senai de Gravataí pela iniciativa!!

Para ler a reportagem clique aqui.


domingo, 6 de maio de 2012

Os cegos e os eletrodomésticos

Publicamos abaixo um excelente texto extraído do blog Telhado da Miau. Casada e mãe de três filhos, a autora Debie Debruxa Miau mora no Rio de Janeiro e mostra uma visão bem-humorada das situações cotidianas na vida de um deficiente visual.


"Uma das coisas que mais gosto de fazer em casa é cozinhar. Muitos perguntam: mas não é perigoso um cego cozinhar? Não, não é. As pessoas ficam tão dependentes davisão, que acabam por nem se darem conta quando usam os outros sentidos como o tato, paladar, audição e olfato.

Os primeiros sinais de que algo vai bem ou mal em uma cozinha percebemos através do olfato ou da audição. Quando um bolo começa a assar, somos avisados pelo cheiro, quando o arroz está cozido, ele começa a estalar, indicando que a água evaporou e se colocamos a medida certinha, estará prontinho. Até mesmo a tão temida panela de pressão emite um sinal sonoro para sinalizar que a pressão começou a pegar. Ninguém abre a panela de pressão para olhar o alimento, e sim ouve seu chiado, percebendo que o processo de cozimento começou. Depois marca um tempo para verificar se ficou pronto ou não, novamente usa a audição para perceber que a pressão saiu totalmente da panela, e finalmente após todo aquele chiado ter acabado é que está sinalizado que podemos abrir a panela sem perigo. E essa verificação não é feita através da visão, e sim pelo paladar, provando o preparo. Não adianta olhar para o alimento que está sendo feito e perceber que está bonito, se não estiver macio, cozido e saboroso não está pronto.

A visão acaba sendo dispensável, ou entra somente depois que utilizamos todos os outros sentidos para auxiliar no embelezamento do prato. Assim como o andar na rua, existem limites dentro de uma cozinha, e em ambos os casos são os mesmos para cegos, não cegos, idosos, crianças, deficientes, pessoas em geral. Na rua, o limite é o meio fio. Sabemos que depois daquele marco existe a rua onde os carros passam, então, melhor é procurar um sinal para atravessar. Na cozinha, o limite é o calor. Sabemos que quanto mais alta a temperatura, mais perto do fogo estaremos. Claro que quem enxerga vê o fogo, mas a sensação de perigo nos é passada através do tato. Nos primórdios, tanto os animais como os homens detectaram o perigo do fogo não pela visão, e sim pelo tato. Pensando nessa ordem de sentidos para cozinhar, me indago: por que a maioria dos eletrodomésticos possui sinalizadores visuais para avisar que a comida está pronta? Por que não possuem além desses sinais coloridos e luminosos os bips melodiosos? Por que estão vindo cada vez mais lisos sem nem um relevo em suas superfícies?

Como uma boa cozinheira, eu adoro novidades, e curto muitíssimo os eletrodomésticos que me auxiliam na cozinha como micro-ondas, multiprocessador, centrífuga, grill etc. Vamos começar pelo mais utilizado que é o micro-ondas. Para um cego utilizar um micro-ondas, não basta ir na loja, comprar, chegar em casa, ler o manual e usar. Uma, que os manuais não veem em braille ou em áudio. É preciso que escaneemos ou procuremos uma pessoa amiga para ler pra gente. Qual a dificuldade hoje em dia para se oferecer um manual em braille, visto existirem tantas imprensas braille nas capitais do Brasil? Qual a dificuldade em adicionar um cd em áudio com a leitura por voz do manual do produto? Vale dizer que no caso de um manual falado, não atingiria somente a clientela de deficientes visuais, mas também os idosos e pessoas que não são alfabetizadas dentre outros que possuem dificuldades para ler as letrinhas e até mesmo interpretar seus códigos. Ultrapassada essa barreira do manual nos deparamos com outro problema: o micro-ondas é lisinho, lisinho, o cego não sabe onde apertar, pois não existe botões nem relevo para uma referência.

Geralmente quando converso sobre essas barreiras com alguém, a opção braille me é indicada como sugestão. Eu penso de forma mais abrangente. O braille me ajudaria, mas não seria nada útil para alguém que acabou de ficar cego e ainda não foi alfabetizado nesse sistema. O relevo seria a melhor opção, e aqui fica uma dica para aqueles que como eu, usam micro-ondas e precisam adaptá-lo. Nas casas de construções existem umas bolinhas de silicone que são usadas para pisos de banheiro a fim de tornar o solo antiderrapante. Essas bolinhas são perfeitas para colar em cima da numeração do micro-ondas, pois são transparentes, não impedindo assim que uma pessoa que enxergue use também. Mas a indagação continua: qual o problema do micro-ondas vir em alto relevo como antigamente? Será que o relevo torna o aparelho tão feio assim? Será que os empresários não percebem que colocando relevos e bips nos eletrodomésticos atingiriam uma clientela bem maior? Não consigo compreender a dificuldade de se colocar, por exemplo, relevos em volta dos botões de uma máquina de lavar roupa. Relevos coloridos então! Alcançaria aqueles consumidores analfabetos, além de tornar o produto mais atraente aos olhos dos que enxergam.

Meu namorido comprou para mim uma churrasqueira elétrica que vem também com bandejas para grelhar. Ainda não chegou, mas estou ansiosa para conhecer o meu mais novo brinquedinho e já me indago: Será que tem bipe para avisar que a chapa tá quente? Acho mesmo que a chapa vai é esquentar para que eu utilize esse produto! rs! Sei que ele fica vermelho quando esquenta, e no meu caso é ótimo, pois ainda consigo ver cores, mas e quem não consegue? Não pode comer comidas grelhadas? Oh dó, não é? Qual o problema em colocar um bip indicando que a chapa está quente e pronta para receber a carne? Ou mesmo uma voz falando os processos de evolução do preparo? Hoje em dia não seria tão complicado assim para um engenheiro eletrônico programar, sabendo-se que ele pode contar com tantas outras coisas desenvolvidas para cegos que possuem o sistema de fala, os sintetizadores e leitores eletrônicos.



E o tempo? Ah sim, nesse iria ter problema, caso eu não tivesse uma certa experiência na cozinha. Mas é injusto saber que existe um cronômetro visual que eu, consumidora cega não posso desfrutar, contando apenas com a minha intuição de cozinheira. Caramba! Até os GPS falam! Por que não os eletrodomésticos? Mas por outro lado existem alguns eletrodomésticos bacaninhas para cegos e que no entanto não são tão conhecidos pela população cegal. Ganhei ano passado uma máquina de pão. A menina dos meus olhos cegos de minha cozinha. Eu a utilizo com a maior facilidade e independência. Seus botões são todos em alto relevo e consigo perfeitamente escolher a cor da casca do pão, o tamanho do pão, além do programa para cada pão. Como nem tudo é perfeito, ainda mais se tratando de eletrodoméstico para a cozinha, infelizmente não se tem como programar para que o processo de feitura do pão comece determinada hora. Para nós, cegos, lidarmos com a panificadora, precisamos esquecer que existe a opção de se programar para que tal hora a máquina comece a funcionar. Injusto. Ainda que eu jamais venha utilizar essa opção, é triste saber que uma pessoa que enxerga e que pagou o mesmo que eu pelo produto, conta com essa opção a mais.

Saindo da cozinha, vamos para a sala onde existe um possante equipamento de som que meu namorido escolhe as músicas nos finais de semana enquanto eu cozinho. Delícia cozinhar ouvindo e cantando juntamente com o som da sala! No entanto, confesso que eu mesma não sei lidar com aquele som. Chega a ser até contraditório que um aparelho de som necessite da visão para funcionar. Não, meu namorido não enxerga. Inclusive ele é mais cego do que eu, pois eu ainda consigo ver cores, e ele nada. No entanto ele tem muita facilidade de entrosamento com esses produtos. Para lidar com esse aparelho de som, é preciso que escolhamos o que aparece no visor. Oh, Deus, como um cego faz isso? É necessário muito malabarismo digital e mental que o namorido consegue, mas eu, cega que não tem essas aptidões de comunicações com aparelhos eletrônicos, deixo a desejar. Então vamos todos os cegos desenvolver essas inteligências e facilidades em lidar com um aparelho de som que requer uma interação visual! Será que as empresas ao vender esses tipos de produtos oferecem um cursinho nesse sentido? E nós, cegos que curtimos tanto a música, não é? Injusto. Eu deliro em saber que podemos colocar um pen drive no som e ouvir todas aquelas pastas que carinhosamente fizemos a seleção no micro! Mas só mesmo em saber, porque usar… só se o namorido estiver em casa.

Ouvindo o som enquanto cozinho, o telefone toca ao meu lado. Mas estou com as mãos ocupadas mexendo alguma coisa no fogo que não pode ser interrompida naquele momento. Ah! Mas tem a Bina! Ela vai me dizer quem está ligando e depois eu poderei retornar a ligação. Oh, sonho! Não, as Binas que as operadoras fornecem não veem com um sistema de voz lendo o número que aparece, nem tão pouco dizendo o nome da pessoa que está ligando após esta ter sido introduzida no sistema de armazenamento da agenda telefônica. A Bina mostra visualmente. O número ou nome de quem está ligando aparece em um visor. Coitado do cego que só poderá fazer uso de tal facilidade se comprar uma Bina falante. Oh, pai, é tão caro ser cego! E coitadas das donas de casa que precisam largar tudo no fogo para correr a fim de olharem para a Bina e identificar quem está ligando. Bem, se ela correu até o telefone deixando a comida no fogo, melhor atender. Às vezes atender o telefone é até mais rápido do que olhar e identificar o número.

E a comida? É claro, ficou queimando ou está lá, esperando no fogo desligado para que recomece, após o telefonema, seu processo de cozimento. E logicamente, o sabor pode até ficar comprometido se o processo de preparo não fosse interrompido.Por que o raio da operadora não introduz um sistema de fala nas Binas visto o telefone ser algo usado por aqueles que ouvem e falam? Lógico que hoje em dia existem até telefones adaptados para que um deficiente auditivo se comunique, mas juntamente com o visor não poderia ter uma voz falando os números?

Mas eu não desisto. Enquanto houver eletrodomésticos que me facilitam a vida, eu vou buscando e adaptando da melhor forma para que possa usar. Mas a vida seria tão mais fácil se os empresários se preocupassem com esses detalhes, aumentando assim a clientela. Quando eles perceberem que o dinheiro investido nessas adaptações será revertido em lucro, talvez cheguemos no ponto de uma independência maior para viver o dia a dia mais contentes com nossas conquistas."