sábado, 18 de maio de 2013

Sem limitações até para sambar

O fato de não enxergar não é motivo para que o deficiente visual não seja incluído na vida em sociedade. A ADVA tem lutado para que eles sejam reconhecidos como pessoas capazes de realizar as mais diferentes atividades. Esse propósito, inclusive, faz parte da Missão e da Visão da instituição: priorizar a igualdade, o respeito e a acessibilidade e acabar com o preconceito e os tabus.

Um exemplo de superação é a história Josiane França, de 35 anos, eleita Rainha Deficiente Visual do Carnaval de Porto Alegre de 2013. A notícia, de autoria do repórter Caetanno Freitas, foi publicada no site G1, em janeiro deste ano, mas vale a pena ler novamente.


'Acho lindo o glamour do carnaval', diz rainha deficiente visual do RS

Josiane França, 35 anos, é a detentora do título inédito em Porto Alegre. Ao G1, ela conta sua história e o que viu do carnaval antes da cegueira.


Josiane ao lado da Rainha do Carnaval e do Rei Momo

O carnaval de Porto Alegre ganhou um novo olhar. Pela primeira vez, a corte terá uma Rainha Deficiente Visual desfilando com uma coroa no Complexo Cultural do Porto Seco, nos dias 8 e 9 de fevereiro. Josiane França, 35 anos, é mãe de dois filhos e perdeu a visão cinco anos atrás em decorrência de uma meningite contraída durante a gestação do seu segundo filho.

Apesar das adversidades, Josiane não desanimou e fez da cegueira repentina um trunfo para virar o jogo, virar o centro das atenções do carnaval e ainda dar exemplo para quem não acredita em superação pessoal.

Alegre e sorridente, Josie, como é chamada por amigos e familiares, se mostra totalmente adaptada à realidade despertada após a cesariana de emergência realizada para salvar Rodrigo, que nasceu com oito meses. Mesmo com o parto prematuro, o bebê enfrentou o mundo com força semelhante à da mãe, que passou cinco meses internada, sendo um deles em coma induzido. Por causa da doença, não teve oportunidade de enxergar o filho, mas sentiu, tocou e ofereceu o amor materno. "Graças a Deus, ele é forte e saudável, como a minha filha Jennifer, que tem 13 anos", comemora.

A jornada até o reinado não foi nada fácil. Josiane participou de diversos concursos de beleza para deficientes visuais, entre eles o Miss Deficiente Visual 2011, promovido pela Associação de Cegos do Rio Grande do Sul. A sorte, no entanto, parecia não a acompanhar. No sentido contrário do acaso surgiu Fábio Verçoza, Rei Momo da cidade há mais de uma década. Ele foi o responsável pelo convite para que ela integrasse a corte do carnaval em 2013. "Achei que ela merecia isso", resume o "anjo da guarda" da rainha.


A magia do carnaval

A rainha Josie lembra muito bem dos coloridos carnavais que acompanhou quando ainda podia enxergar e analisar o charme das musas na avenida. “Lembro da alegria das pessoas desfilando, das cores das escolas. As mulatas... Sempre achei lindo vê-las sambando. Acho lindo esse glamour que envolve o carnaval”.

O Rei Momo já trata a rainha como filha adotiva. “Ter conhecido a Josie foi um presente divino. Muitas pessoas podem pensar que a coroação seja um ato de bondade da nossa parte. Na verdade, é bondade dela por nos ensinar tudo que ela ensina diariamente. A forma de lidar com as pessoas, a alegria, a determinação dela”, ressalta o Rei Momo, emocionado.

E ela promete fazer bonito na avenida do Porto Seco. “Quero mostrar para o povo que os deficientes também curtem carnaval, que a gente também gosta de cultura. Eu continuo sambando, continuo me divertindo”, diz. “Se eu pudesse mandar um recado para as pessoas, gostaria de dizer que cada um deve procurar a sua força interior, aquela força que está dentro de nós e nos faz insistir. Então, procure sua força e não um consolo”.

Antes de se tornar rainha, ela tentou o caminho da política e concorreu a uma vaga na Câmara Municipal de Porto Alegre pelo Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB). “Gostaria de poder ajudar quem precisa, assim como eu. Acho que deveria existir um projeto de inclusão social consistente. Por isso tentei me eleger como vereadora. Mas não deu”, diz ela, sem perder o sorriso que a acompanha a todo instante.



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